quarta-feira, 28 de maio de 2008

Ironman 2008: Relatório

Eu e minha esposa chegamos na área da largada às 5:00 horas da manhã. Deixei as sacolas de special needs e fui para a pintura, o número 716 ficou nos dois braços e na perna esquerda, além da letra “c” (minha categoria) na direita.
Chequei as sacolas da bike e da corrida deixadas na véspera, enchi novamente os pneus da bicicleta, e corri para o banheiro químico mais próximo, o nervosismo deu algum tipo de efeito colateral, superado rapidamente...
Fomos caminhando pela praia até a largada, amanhecer lindo, e quando entrei no local reservado aos atletas, concentração total.
Natação.
Saí rápido, e fiquei no meio de um liquidificador gigante. Tomei pernadas e braçadas, acertei alguns também, não raro tinha alguém nadando em cima de mim. Acho que demorou uns 10 minutos até aliviar um pouco a natação, e encaixar o ritmo. O mar estava diferente do treino que fiz na quinta-feira, não senti a correnteza puxando para o lado, e o helicóptero atrapalhava um pouco fazendo ondas e uma espuma por todo o lado.
Quando dei a primeira volta, vi no relógio que tinham passado uns 37 minutos. Achei que a distância era de 2.100m (foi o que disseram no congresso técnico), então estaria abaixo do previsto. Na volta, fui no pé de alguns atletas, num ritmo bem tranqüilo, e percebi a correnteza levando para o fundo, o que atrapalho na última parte da natação.
Quando cheguei, estava totalmente descansado, inteiro. O relógio marcava 1h18min, um pouco mais lento do que eu previa, mas considerando a correnteza, e o fato de eu não estar cansado, achei excelente esse trecho.
Transição 1
Fiz com toda a calma a transição, uns 10 minutos. Sentei, me enxuguei, pus roupa inteira de ciclismo, enchi os bolsos da camisa, fui trotando de sapatilha até a bike e saí para os 180km.
Ciclismo
Na primeira volta, estava descansado e cheio de energia. O sol estava forte, não havia uma única nuvem no céu, mas o calor ainda não tinha aparecido. Mantive uns 30km/h de média, talvez um pouco mais, relaxando nas subidas e no vento contrário, e tascando o pau nas descidas e no vento a favor.
Na segunda volta, o calor aumentou, o vento soprou mais forte, e meu ritmo caiu. Mais ou menos no km120, tive câimbras fortes na parte interna da coxa esquerda. Comecei a comer palitinhos e castanhas de caju desesperadamente (sal), a dor começou igual também na direita, e fui para o volantinho. A velocidade caiu para uns 26km/h, aí peguei uma banana no posto logo depois dos túneis, e parei para alongar um pouco. Voltei a pedalar, receoso com as pernas, mas só quando fazia determinados movimentos parecia que as câimbras iam voltar. Consegui achar um movimento confortável de pedal, e a velocidade voltou a subir, até que lá pelo km 150 eu já tinha desencanado do contratempo.
Na parte fina havia 2 subidas fortes, que fiz em 39x25, e então cheguei a uns 31/32km/h na parte final, cansado mas bem melhor do que no treino de 180km, por exemplo. Fechei em 6h20minutos, um excelente tempo.
Transição 2
A segunda transição foi mais tranqüila, e fiz em mais de 10 minutos. Troquei a roupa inteira, alonguei, comi e tomei Gatorade, e depois de pronto ainda fui no banheiro para o xixi mais longo da minha vida (estava com vontade desde a natação).
Corrida
Logo na saída da transição a Fernanda Keller me passou, ela já tinha completado 21km, eu estava começando. Já tinha tomado a decisão de não andar na maratona, fora nos postos de alimentação e numa subida absurdo que existe na volta de 21km (depois são 2 voltas de 10km). Comecei num ritmo de 6:00/6:15min/km, sorrindo, tranqüilo. Lá pelo km 6, alcancei o Carlos Guimarães, e fomos batendo papo até a tal subida, que ele fez correndo, e eu andando. A partir daí, fui sempre acompanhando ele de longe, estávamos no mesmo ritmo. Como ele não andava nos postos de alimentação, acabou abrindo aos poucos, mas foi bom tê-lo à vista por longo tempo. No final dos 21km, o Caio também me passou, e fiquei marcando o ritmo com ele (os dois chegaram quase juntos no final).
Fiz a maratona focado, sem mudar muito o ritmo, que só caia por conta de um enjôo decorrente da alimentação. Comecei a pegar coca-cola e sal nos postos, e isso pareceu ajudar. Cada vez que eu me alimentava, vinha uma energia nova, e dava para acelerar, até que o enjôo voltava, só passando nos postos de alimentação.
Já era noite quando cheguei, nem acelerei nos últimos quilometros, pois queria terminar abaixo de 13 horas e vi que estava tudo sob controle. Minha esposa e meus filhos estavam esperando na chegada, e cruzamos a linha de chegada juntos, o Arthur no meu ombro, a Tatiana no colo da Cris, e nós de mãos dadas. Sem dúvida, um dos momentos mais emocionantes da minha vida. A maratona foi feita em 4h57minutos e, no cronômetro da linha de chegada, os números estavam cravados: 12 horas 56 minutos 13segundos.
Depois
Fui para a área de descanso dos atletas, ganhei uma toalha, peguei bisnaguinhas, coca-cola, uma barrinha, e sentei numa mesa. Chorei muito. Cada minuto de treino valeu a pena. Eu me tornei um Ironman. Saí, peguei a medalha, fui com minha família para o hotel, colocamos as crianças para dormir, tomei um banho, e voltei para a área de chegada. Lá havia uma casa reservada aos atletas que foram com a Endurance Sport Travel, tomei uma sopa inesquecível, comi muito arroz, feijão e frango, e fui assistir aos últimos atletas chegarem na prova (depois das 16 horas). Muita emoção nas chegadas, é algo que realmente impressiona. Final de prova, as luzes se apagaram, e voltamos para o hotel, eu e minha esposa, felizes da vida.

1 comentários:

Cris-Tuka disse...

Parabens!!! acabei de ler seu relato e chorei mais uma vez!!! Foi tudo lindo e estou super orgulhosa do mais novo ironman!!! te amo!