quinta-feira, 18 de junho de 2009

Reflexões e dicas para quem vai começar.

Não fiz nenhum treino desde o Iron. Não por falta de vontade. Pelo contrário, estou louco para voltar a fazer tudo. Mas a vida está bem complicada.
Meu pai está no hospital, depois de uma delicada cirurgia cardíaca. Está tudo bem, mes estou postando aqui do hospital, durmo aqui dia sim, dia não. Tive que ir a Brasília na terça-feira, perdi um dia inteiro em aeroporto e reuniões. No trabalho, o ritmo está bem intenso. Tive aniversário do meu filho na semana passada, meu aniversário na semana anterior, festas juninas das crianças, uma bagunça só. E o frio pela manhã não ajuda nada também.
Sábado volto aos treinos. Vai ser bacana.
O que gostaria de comentar é o quanto estou feliz com a iniciativa de ter o blog. No começo, era só para anotar meus treinos, ter uma base do que estava funcionando, do que precisaria melhorar, e poder fazer comparações em diversos períodos. Com o tempo, algumas pessoas descobriram o blog, e começaram a mandar mensagens. Isso é muito, muito legal.
É incrível como muitas pessoas se identificam com minha situação. Família, trabalho, vida social, é muito difícil conciliar tudo com treinos e provas de endurance.
Quando pensei em fazer triathlon, achava o esporte pitoresco, diferente, curioso. Já sabia que queria completar um Ironman, o desafio da prova era incrível. Foi muito difícil tomar o primeiro passo, decidir encarar esse objetivo. Sempre atingi minhas metas, nunca desisti de nada. Sabia que, quando decidisse completar um Ironman, teria que treinar muito, mudar meu jeito de vida, sacrificar muitas coisas, e mesmo assim não teria certeza de que completaria.
Tive muita sorte, porque contei com apoio da minha família, tive companhia para os treinos lá da RACE, consegui conciliar trabalho e treinos (na medida do possível), e mantive um alto astral mesmo nos períodos mais difíceis do treinamento.
Os que já fizeram o Ironman sabem a emoção de cruzar a linha de chegada. Nesse segundo ano, treinar foi mais fácil, pois eu já sabia o tamanho da recompensa ao final. Vale a pena.
Para os que não fizeram, e cada vez mais recebo mensagens de pessoas que resolveram encarar o desafio, em 2010, 2011 ou sei lá quando, ficam aqui algumas dicas. Dicas de um cara normal, não sou nem nunca vou ser um atleta de ponta, não tenho talento nem tempo para isso. Dicas diferentes daquelas que treinadores, atletas profissionais ou revistas especializadas transmitem. Dicas de um Ironman amador.
1) Depois que decidir fazer um Ironman, mergulhe de cabeça na tarefa. A partir dessa decisão, é importante lembrar sempre o porquê de estar fazendo isso. Você vai menos ao cinema. Você vai ver menos seus amigos. Você vai sair menos com seu/sua companheiro(a). Você vai acordar muito cedo. Nem sempre você vai dormir mais cedo. Naturalmente sua alimentação vai mudar. Esteja preparado para isso, é muita mudança ao mesmo tempo.
2) Não tente fazer os outros entenderem suas razões. Se o outro não compreende, de primeira, por que você se sacrifica tanto, ele não vai compartilhar inteiramente do seu entusiasmo. E isso não é ruim, não está errado. Cada um tem suas prioridades. A sua, a partir de então, é completar um Ironman.
3) Quando você entra na rotina de treinos, é muito mais fácil do que parece. Sério. Antes de comprar uma bicicleta, pedalar 40 quilômetros me parecia um feito heróico. Nos primeiros 2 ou 3 treinos, achei que nunca conseguiria. Depois de 2 meses, já pedalava 90 quilômetros. Nosso corpo se adapta bem à rotina de treinos, ou seja, é muito mais fácil realizar aquilo, quando estamos exercitando o corpo, do que parece quando estamos fora de forma e imaginamos as quilometragens que vêm pela frente.
4) Não subestime a empolgação decorrente do desenvolvimento que vamos tendo durante os treinos. Você vai começar a nadar, pedalar e correr mais fácil. E isso estimula cada vez mais. Vira um círculo virtuoso, você treina mais e melhor cada vez que percebe o aumento de sua aptidão e forma física.
5) Você vai conhecer malucos com o mesmo sonho de completar um Ironman, e outros malucos que já fizeram a prova e vão repetir a dose. Converse com esses malucos, aproveite para fazer novas amizades. É bom falar de Ironman, é bom dividir o clima da prova, é fantástico compartilhar esse sentimento de orgulho que temos depois de treinos longos e na preparação para esse evento mágico.
6) Cada um tem um estilo. Tem gente que gosta de sofrer. Tem gente que procura ser agressivo nos treinos e nas provas. Outros preferem ser comedidos. Uns querem fazer o melhor tempo possível. Outros só querem completar, ou ainda completar sem muitas dores. Tem gente que gosta de gastar muito com bikes. Outros preferem (ou só podem) gastar o mínimo possível. Para alguns, natação é um horror, nem deveria fazer parte do triathlon. Para outros, é a parte mais nobre da prova. Tem de tudo por aí. E ninguém está certo ou errado. Não discrimine que não compartilha das suas crenças. Se o cara tem uma bike de R$20 mil, e vai fazer os 180km da bike para mais de 8 horas, garanto uma coisa: ele está feliz com a bike, e com o fato de conseguir completar um Ironman. Se outro nada os 3.8km em mais de 2 horas, ele não deixa de ser um triatleta de respeito, independente do que faça no pedal ou na corrida. Cada um é diferente, e o que você gosta, espera, curte, torce e faz acontecer é só da sua conta, de mais ninguém.
7) Na linha de largada, eu olho para os lados e vejo rostos de todos os jeitos. Tem gente feliz, nervosa, ansiosa, calma, rangendo os dentes para sair em disparada, beijando o(a) companheiro(a), tirando foto, aquecendo, meditando, batendo papo... Mas eu sei o que cada um passou para estar lá na linha de largada. Não tem corpo mole para chegar lá. Ou treinou, ou não treinou. Não dá para enganar. Eu tenho orgulho de cada um que está lá, e tenho certeza que todos lá têm orgulho de mim. Estamos todos na mesma prova, o sentimento de companheirismo na largada é incrível.
8) Treino é treino, prova é prova. Alguma coisa vai dar errado na prova. Sempre. Pode ser um pneu furado, a perda dos óculos de natação, problemas intestinais, cãimbras na corrida, escolha errada da roupa, sacola de transição que sumiu, qualquer coisa. A cabeça tem que estar preparada. Repito, sempre vai dar alguma coisa errada no Ironman. Todo mundo tem histórias para contar no final. Isso faz parte da magia da prova, a adaptação às dificuldades que vão aparecer.
9) Cruzar a linha de chegada faz valer a pena todo o sacrifício. Se você cogita fazer um Ironman, já viu fotos da chegada, já quer sentir aquela emoção. Já tem a curiosidade, já foi mordido pelo bicho, já fica imaginando com vai ser a sua chegada. Acredite nesse amigo aqui, aquela linha de chegada é mágica, faz tudo valer a pena.
Sei lá, estou viajando um pouco por aqui, mas tenho recebido várias mensagens muito legais de pessoas que por algum motivo do destino descobriram o blog, e se identificaram com alguma coisa. Se esse blog servir como um empurrãozinho para uma única pessoa decidir, finalmente, treinar e completar o Ironman, já fiz muito mais do que esperava quando comecei a escrever sobre meus treinos. Porque a vida dessa pessoa vai se transformar, para melhor, quando aquela linha de chegada for cruzada em menos de 17 horas de prova.
Sou um Ironman amador. E digo que qualquer pessoa pode completar um Ironman, desde que esteja disposta a pagar o nada desprezível preço - mais do que justo - para sentir a emoção da chegada.